Olá leitores, seus lindos.
Vamos a terceira parte do final de Folclore Oculto com uma das costumeiras ações suicidas de Núbia Cabrall.
3 A Herdeira
Ao abrir a porta Edgar
deparou-se com a sala bagunçada, como se um furacão tivesse ido tomar um cafezinho básico em sua casa. Núbia estava no centro do cômodo, com os braços cruzados e olhar
raivoso.
— O que aconteceu aqui?
— disse Edgar.
Logo Lia também
chegou, como sempre, reclamando.
— Edgar! Chama logo o
corpo-seco para levar minhas compras, homem! — ela então visualizou a sala. — Núbia Cabrall,
o que ocorreu aqui?
— Primeiramente eu
treinava magia — explicou Núbia. — Depois fui pega por ela.
Lia notou a forma
raivosa com que Núbia olhava Edgar, e resolveu que aquela era sua deixa.
— Eh...Bem, acho que
vou procurar o corpo-seco eu mesma. — Ela forçou um sorriso. — Até mais,
queridos!
Saiu apressada para a
cozinha.
— O que aconteceu, criança? — perguntou Edgar
impaciente.
— Você sabe muito bem o que aconteceu, Edgar Cabrall! O
que o senhor tem contra o direito de ir e vir das pessoas, hein? Quer prender
todos e tudo!
— Ah... Suponho que esteja falando do campo que fiz em
volta da casa, certo? Bem criança, quero que saiba que isso tudo é para seu
bem, agora que sabe toda a verdade, é imprevisível a reação daquele... demônio.
O melhor para ti, minha querida herdeira, é permanecer aqui no casarão e longe
das mentiras daquele "rapaz".
— E você acha que eu iria atrás dele?
— Se você descobriu o campo magico é por que tentou
sair, e se a senhorita queria sair só podia ser para vê-lo. Ou estou errado? Iria ao shopping, criança? _ dobochou Edgar com um sorriso seco.
Núbia realmente pensava em procurar Cissa e aquilo
lhe fez sentir-se culpada, depois sentiu-se culpada por sentir-se culpada.
— Você diz que é melhor para mim permanecer longe das
mentiras de Cissa, e das suas? — disse ela desafiadora.
Edgar estreitou os olhos, mas ficou sem argumentos.
— Vai para seu quarto — ordenou.
— Já percebeu que toda vez que fica sem o que retrucar
me manda para meu quarto? Mas eu não
quero ir, Edgar, quero sair, quero que desfaça aquela droga de campo de
força.
Edgar rosnou.
— Não seja mal educada Núbia Cabrall, somente suba já
para seu quarto. Você sabe que não tem escolha.
Núbia cruzou os braços e permaneceu parada, não tenho escolha é? pensou ela, isso é o que iremos ver.
Os olhos de
Edgar ficaram totalmente negros, mas aquilo não amedrontou Núbia, nem ela sabia
como, mas não amedrontou.
Os objetos caídos no chão voltaram a voar pela sala, e
Edgar abriu um sorrisinho.
— Hum... você sabe levitar coisas — disse ele sádico.
Núbia franziu o nariz e os objetos avançaram em
direção a Edgar, porém nem um o acertou, um campo invisível o protegeu.
— Deixe de ser idiota Núbia, você sabe muito bem que
não é párea para mim.
Núbia ardia em raiva.
— E você sabe que não vai poder me aprisionar aqui por
muito tempo. Você é meu tutor temporário, logo a justiça vai me tirar daqui e
a Rita vai conseguir minha guarda. Na verdade, sequer preciso disso, não sou mais criança, posso simplesmente... sair daqui e nunca mais voltar.
Edgar riu.
— O que te faz pensar isso, criança? Será que não vê,
além de poderoso no mundo sobrenatural, sou poderoso no mundo “normal”. Esse
casarão, o sítio em si, é meu local favorito, mas não é meu único bem, sou
milionário Núbia Cabrall, e sou seu único parente conhecido, se eu pedir sua
guarda eu a ganho sem dar a mínima chance a tal Rita.
Núbia ouviu um murmúrio triste atrás dela, virou-se e
deparou com Lia encostada na parede com um olhar doloroso que dizia: Desculpe.
Só então Núbia entendeu qual foi o trato entre Lia e Edgar.
— É por isso que você quer permanecer casado com Lia?
Sendo conjugado é mais fácil ganhar minha guarda! Lia poderá ir embora quando
eu não tiver mais essa escolha!
Edgar levantou uma sobrancelha.
— É bom saber que não é tão burra.
Ele pegou o braço de Núbia.
— Agora suba por conta própria ou obrigada.
— Edgar — tentou intervir Lia. — Não faça nada com
ela.
Edgar a fitou com um recado simples e direto: Não se
intrometa.
Núbia rosnou.
— Me larga ou eu...
— Cale a boca — disse Edgar revirando os olhos e arrastando
Núbia escada a cima.
— Eu vou te matar Edgar! — dizia Núbia tentando se
soltar, porém ele era bem mais forte do que ela poderia imaginar.
— Há quem tente isso há anos e até agora nada — disse
ele fitando Lia por alguns segundos.
Ele praticamente jogou Núbia para dentro do quarto e fechou
a porta por fora.
Núbia avançou para a porta e bateu violentamente de
forma constante.
— Edgar! Edgar seu maldito! Me solta!
— Sua mente está extraordinariamente confusa — dizia
Edgar tranquilamente do outro lado da porta. — Sei que está fervendo em raiva,
mas será mesmo que devo ser eu a vitima dessa raiva toda? Seus conceitos estão
perdidos, suas certezas estão incertas, sua vida não faz mais sentido algum,
não é?
Núbia não respondeu, mas sequer era necessário. Era óbvio
que ela estava totalmente perdida. Quem era o verdadeiro vilão daquela história?
Quem estava certo ou errado? O que ela faria? Para onde iria? Ela não tinha
ninguém a quem realmente confiar. Edgar acusou Cissa de fazer dela uma boneca,
mas agora fazia o mesmo.
Horas se passaram, Núbia permanecia
sentada em sua cama, encolhida, com o olhar perdido e os pensamentos então...
Ela tinha que sair daquela casa, ou ficaria
completamente louca em alguns dias.
Ouviu que alguém destrancava a porta, e
logo Lia entrava com uma bandeja com lanches e um copo de sulco.
— Está com fome mocinha?
Nubia não respondeu, mas ainda sim Lia foi
até ela e sentou-se ao seu lado.
— Querida, não fique assim. Edgar nunca
sabe demostrar o que realmente quer, mas...
— E você ainda o ajuda — interrompeu Núbia
em um murmúrio. — Está o ajudando a destruir a minha vida.
— Não! E... sim. Núbia. Não é tão ruim assim.
— O que ele quer, Lia? O que ganha obtendo ou não minha guarda?
— Uma herdeira, oras. Edgar achou que
sua família estava acabada Núbia. Então você aparece, e inicialmente não faz
diferença alguma na vida dele, mas agora que ele vê seu potencial ele... achou o
que tanto procurava. Você ouviu lá em baixo o que ele disse. Edgar é rico, e
mesmo sendo muito poderoso, um dia morrerá, acho até que ele anseia por isso,
mas não podia simplesmente falecer e deixar todo seu patrimônio sozinho. Ele
sempre quis que a filha Tainara ficasse com tudo, mas ela morreu, no entanto, agora
com você ele tem a chance de começar tudo de novo. Ele só quer alguém para
prosseguir sua família, seu nome.
— E se eu não quiser ser... a herdeira
dele?
— Provavelmente ele te obrigará.
Núbia bufou e Lia acaricio-lhe os
cabelos.
— Eu queria muito te ajudar Núbia, mas
sou tão vítima dele quanto você.
Lia deixou a bandeja com os alimentos na
cama de Núbia e se foi.
...
Sentado num galho de arvore Cissa observava Núbia desconsolada em seu quarto. A tristeza de sua menina era tão visível que
feria Cissa como fogo. Nunca pensou que sofreria tanto por outra pessoa, mas
ali estava ele sentindo cada lagrima de Núbia queimando como acido em seu
coração. Ele tinha que tira-la do casarão, não sabia como, mas tinha. Nesse
mesmo instante sentiu o vento frio da noite bater em seu corpo e uma força de autoestima
pareceu vir junto a tal. Ele olhou as poucas folhas da arvore em que estava, elas
pareciam brilhar para ele, o tronco da arvore exalou um perfume, perfume este
que Cissa lembrava-se sem dúvida alguma.
_ Mãe terra... _ murmurou ele ao nada, e
os ventos levaram suas palavras noite adentro, e a Lua brilhou como um aviso de
que no dia seguinte, tudo poderia acontecer.
Núbia precisa de um psicologo, anda meio revoltada. Mas e aí leitores, o que acharam da ação de Edgar, Núbia e os outros personagens? E o finalzinho com nosso amado Cissa? Comentem!
Bjs e até a próxima.